quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Trocando seis por meia dúzia – Voltando à praia

Resolvi voltar à praia. Antes de entrar de férias, uns amigos do trabalho disseram que estavam abrindo um negócio, um comércio. Então, pra matar o tempo durante as férias resolvi me arriscar no mundo dos profissionais autônomos, também. Abri um pequeno varejo. Não, não era uma franquia de restaurantes, nem de quiosques de cerveja e muito menos de loja de perfumes.

A coisa era fácil!

Claro, todo empreendimento precisa de preparação. E eu realmente tinha que me preparar. Afinal, ia vender guaraná natural na praia sob um sol de 1024587965243° C.
Não pense que é exagero, não sou acostumada a ficar com sol no lombo o dia inteiro. E só fui à praia duas vezes na minha vida. 
Vamos lá:
 1º vez: tinha 1 ano de idade, e a única coisa que sabia fazer sem a ajuda de ninguém era cagar. Era completamente dependente pra tudo. Eu não sabia falar. Como me recusaria a ir à praia?!
 2º vez: Foi no meu primeiro dia de férias. Dessas férias mesmo. Você pode conferir a desventura clicando aqui.
E nessa terceira tentativa é foco total. Como me disseram que o negócio era completamente rentável foquei em uma viagem pras terras do Tio Sam. Sabe como é: traçar um objetivo ajuda muito. Hum.... Disneylândia aí vou eu nas próximas férias.

E tudo começa assim:

Querido diário,

É manhã do primeiro dia da terceira semana das minhas férias. Fiz um alongamento básico. Após, mais uma hora de Rata Yoga, afinal, ficar na praia com certeza vai me trabalhar e me preparar para suportar a força e o peso da elevação espiritual. Besuntei-me com meu bloqueador solar de FPS 110 em gel spray importado (não me pergunte como pode ser gel e spray ao mesmo tempo) ganhei ele da minha avó quando ela completou todos os números do Papa Tudo e com o dinheiro foi à Europa, espero valer a pena usá-lo.
Peguei meu lençol rosa choque tamanho queen, entrei no you tube e aprendi a trançar um turbante da melhor qualidade. Na realidade, no final de toda a minha arrumação eu estava parecendo um beduíno que veio direto da última AGP (Arabian Gay Parade).

Aproveitei, dei uma marcada nos olhos com lápis, ensaiei uns passinhos de dança do ventre e fiquei treinando bordões como inxalá e hare baba. Eu estava irresistível. A única coisa que não combinava era o isopor azul que eu ia carregar com os guaranás. Mas pelo menos dava uma quebrada no rosa.

Carreguei no desodorante, peguei uma bolsinha de festa Louis Vuitton da coleção passada coloquei no ombro pra guardar o meu dinheiro e ...

Meia hora depois....

Estou até agora tentando colocar o isopor com os guaranás e o gelo no ombro. Putaquipariu que porra pesada. Tudo me incomoda, inclusive minha roupa de beduíno gay que já está toda suada. A porta da minha casa está um metro a minha frente e eu só vou sair por ela com a desgraça desse isopor.

Melhor pensar mais um pouco, traçar uma estratégia.

Querido diário...

Vou tomar banho e pensar debaixo do chuveiro. Tropecei no isopor. Inferno!

Querido diário,

O zelador me emprestou o carrinho de feira dele. Agora tudo está mais fácil e mais rentável. Peguei outro lençol rosa e fui pro ponto de ônibus.

Lembrete:

Ligar para a empresa de ônibus e reclamar que fui discriminada pelas minhas vestes. Nenhum ônibus parou.

Perseverando na minha maldita ideia, peguei um táxi e finalmente cheguei a merda da praia. Que inferno quente! Em dois segundos a minha alma começou a transpirar. Acho que daqui a meia hora vou derreter.

Desci pela areia. Meus pés parecem bifes à milanesa. Graças a Deus que treinei ficar na pontinha do pé com a dança do ventre. Impossível ficar em pé normalmente na areia da da praia. Me sinto uma gazela saltitante pulando na pontinha dos pés entre as pessoas que estão deitadas na areia.

Ainda descubro como um ser humano consegue torrar assim e ser feliz depois. Tem gosto pra tudo.

Olha o guaraná, inxalá!! Guaraná da inxalá só R$ 2,50. E lá fui eu fazendo propaganda do meu produto. Muita gente comprou, não sei se é porque estavam com sede ou se é porque sentiam pena de mim. Compraram. Isso é que é importante.

No final da tarde, com aquele calor e aquela roupa suada (fedendo eu não estava, meu desodorante é poderoso) eu queria voltar pra casa, tinha apenas um copo de guaraná no isopor. Eu estava tonta e me sentindo um frango assado de padaria, girando no calor.

Não vendi o último guaraná, usei-o em proveito próprio. Bebi pra repor as calorias do meu corpo. Eu já não sentia os meus pés. E já estava convivendo bem com a ideia de não ter alma, já que a minha tinha derretido há umas cinco horas atrás.

Deixei o isopor na praia. Minha raiva não deixou que eu o trouxesse de volta pra casa. O carrinho de feira só trouxe porque era do zelador. Peguei todo o dinheiro e voltei de táxi pra casa.

Entrei no táxi e pedi pro cara ligar o ar condicionado no máximo, tirei o turbante e desenrolei a parte de cima da minha roupa, por baixo tinha o sutiã do biquíni. Não foi dessa vez que um taxista velho e nojento me viu fazer top less dentro do carro dele. Ele soltou uma cantada. Fingi que não ouvi. Já tinha saído do inferno e aquele capeta eu não ia abraçar mesmo.

Querido diário,

Já é noite e eu estou em casa. A Disneylândia não vai me conhecer se depender da venda de guaraná natural. Estou passando mal. Não tive lucro nenhum. Tive que pegar um táxi pra casa porque se viesse de ônibus ia direto pro IML mais próximo.

A experiência valeu, agora sei que não devo voltar à praia nunca mais.


E agora José? Inês é morta?

Não morreu não, mas deve estar com um bronze que só!!! Uhhhuuuu!!!!  O José ainda acha que Inês deve fazer uma nova tentativa de ir a praia e pegar sol como um ser humano normal. José adora marquinhas de biquíni. Inês acerta um de direita bonito no olho esquerdo de José.

José? José? José?
Tá vivo cara?
Ops!

Importante: Limite seu tempo no sol, apesar da hora ou estação. Evite pegar sol entre 10 da manhã e 4 da tarde, quando os raios de sol são mais fortes. Procure ficar na sombra. Use chapéu e óculos escuros. Não se esqueça do bloqueador solar e carpe diem! 

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